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“Querem isolar o PT por ciúmes. O PT perturba”, diz Jaques Wagner
O senador e ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, afirmou, em entrevista à Tribuna, que há uma tentativa hoje de isolar o seu Partido dos Trabalhadores
Segunda-Feira, 13 de Julho de 2020

O senador e ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, afirmou, em entrevista à Tribuna, que há uma tentativa hoje de isolar o seu Partido dos Trabalhadores. Para ele, um dos motivos é o “ciúmes” que a sigla provoca entre aliados e adversários. “Alguns querem isolar o PT. Há um movimento claro de tentar isolar o PT. Acho que tem contraposição de um lado e ciúme de outro. Acho gozado que ninguém cobra o PSDB nunca ter saído do governo de São Paulo e oferecido a alguém. Então, o problema é que o PT perturba. Fomos 13 anos e meio governo federal e temos uma marca muito forte. As pessoas querem destruir”, declarou.

Wagner acredita que a pandemia do novo coronavírus e as investigações envolvendo filhos e aliados de Jair Bolsonaro revelaram uma face até então desconhecida por muitos apoiadores do presidente da República. O petista avalia que o negacionismo, a insensibilidade e a falta de capacidade de Bolsonaro de elaborar estratégias para evitar a disseminação da doença não foram bem recebidas por boa parte do seu eleitorado.

"A pandemia de um lado mostrou uma face dele que desiludiu muita gente. Inclusive, na minha opinião, algumas pessoas religiosas que o acompanham. Ele mostrou baixíssimo sentimento de solidariedade ao ser humano. Já estamos batendo na casa dos 70 mil mortes. E ele continua brincando. 'Toma isso, toma aquilo'. Isso choca as pessoas", declarou Wagner, em entrevista exclusiva à Tribuna.

O senador avalia que o atual chefe do Palácio do Planalto se viu obrigado a mudar de postura diante da crise institucional e das investigações contra os filhos e aliados. "Estão percebendo que arrumar inimigo, em qualquer lugar, pode parecer interessante para 5% da população, mas no geral é muito ruim. (...) Lá fora a imagem do Brasil foi para o chão. A gente já recebeu carta de investidores, de executivo de empresas grandes... Ele está fora do diapasão", avalia. Wagner ainda dá um panorama geral sobre a cena política no Brasil e revela visões de mundo. Segundo ele, o PT hoje recebe ataques de campos oposicionistas e, inclusive, ideologicamente alinhados: "O PT é uma estrutura que incomoda".

Tribuna – O presidente Jair Bolsonaro vinha tecendo críticas ao Congresso Nacional e ao STF, mas, nos últimos dias, mudou a postura. Qual é a sua avaliação sobre a mudança?

Jaques Wagner - A mudança de postura dele decorreu de uma decisão que ele tomou com os seus assessores mais próximos, provavelmente, avaliando, com pesquisas, que a postura dele agressiva o tempo todo causa confusão na cabeça das pessoas sobre a questão da pandemia. E também (avaliando) as repercussões internacionais. A postura dele tem tido com consequências bastante objetivas na área do interesse externo por investimento aqui e até na questão da nossa balança comercial. O mundo todo em pandemia está em recessão. Então, o mínimo de bom senso é preservar a sua relação com investidores, parceiros comerciais. De um lado, ele ataca a China, do outro, o meio ambiente. São questões que prejudicam aliados dele de primeira hora. Então, foi isso. Claro que se somou toda a postura também do Supremo, do Congresso e das plataformas digitais. Agora, por exemplo, se fez uma movimentação no mundo inteiro, inclusive aqui, e pegaram contas vinculadas ao gabinete dos filhos do presidente. Acho que a máscara está caindo. Essa postura não é postura de alguém que preside um país da importância do Brasil. É isso que eu acho da mudança dele. Não serei eu o fiador dessa mudança de médio prazo, ou que será só pontualmente. Também contou nessa mudança a prisão do Fabrício Queiroz, que é umbilicalmente ligado à família e ao Flávio (Bolsonaro). Como se diz, a água vai batendo no bumbum. As pessoas estão percebendo que arrumar inimigo, em qualquer lugar, pode parecer interessante para 5% da população, mas no geral é muito ruim. Digo porque tenho tido em contato, com essa questão da sustentabilidade ambiental, social e econômica, e lá fora a imagem do Brasil foi para o chão. A gente já recebeu carta de investidores, de executivo de empresas grandes... Ele está fora do diapasão.

Tribuna - Como viu o estudo que foi encomendado pelo PT de que os eleitores, mesmo desiludidos, ainda votariam em Bolsonaro novamente?

Jaques Wagner – Prefiro não comentar, porque eu pelo menos não estudei esse estudo. Mas eu acho que ainda é muito cedo para estar falando de 2022. Acho que tem um pouco de gente desiludida, desencantada. Ele (Bolsonaro) está na mídia de manhã, de tarde e de noite. Interpreto que as pessoas estão dizendo 'ó, para mim, foi uma desilusão, até parecer algo que possa me encantar...'. Na verdade, as pessoas admitem votar nesse novo. De qualquer forma, não dá para desconhecer, têm várias pesquisas aí, que ele estava com uma aprovação na ordem de 40%. A pandemia, de um lado mostrou, uma face dele que desiludiu muita gente. Inclusive, na minha opinião, algumas pessoas religiosas que o acompanham. Ele mostrou baixíssimo sentimento de solidariedade ao ser humano. Já estamos batendo na casa dos 70 mil mortes. E ele continua brincando. 'Toma isso, toma aquilo”. Isso choca as pessoas. Ele mostrou a face fria dele. A única coisa que o motiva é o poder e a violência. É uma pessoa que se excita muito com a violência. Ele fala isso. Fala de guerra civil, morrer 30 mil... É uma pessoa que vive disso. Mas, por outro lado, uma coisa que ele não queria e ele acabou aceitando, foi o auxílio emergencial, que evidentemente contribuiu para ele. Não é à toa que ele e Paulo Guedes estão falando em prorrogar. Se a média de aprovação dele é 40%, entre os que recebem auxílio emergencial vai para 48% ou 49%. Então, ele ainda tem uma popularidade.

Tribuna – O que explica essa popularidade?

Jaques Wagner – Aí só entendendo a cabeça das pessoas. Uma parte pode ser por causa do auxílio. Depois, ele tem apenas um ano e meio de governo. Então, as pessoas fazem uma aposta e querem acreditar que essa aposta dê certo. Então, as pessoas continuam (apoiando) mesmo vendo as barbaridades. Talvez, por isso ele recuou de tanta fala agressiva, porque isso está tirando pontos dele. Ninguém gosta de uma pessoa que nega a ciência, a cultura, o meio ambiente... É uma coisa fora de propósito completamente.

Tribuna – Quais foram as consequências da eleição de 2018?

Jaques Wagner – Nos anos depois de 2014, quando a Dilma foi reeleita, os partidos fizeram uma campanha obstinada para derrubar o governo dela. O PSDB, o DEM... Hoje todo mundo finge que não viu, mas é uma verdade. A chapa majoritária que era PSDB e DEM, que comandavam a chapa do Aécio, trabalharam, acusaram as urnas e tudo o que você conhece. Depois se aliaram com Eduardo Cunha para fazer as pautas bombas e interditar o governo. E marginalizaram o PT. Erraram a mão, acabaram inviabilizando o governo da Dilma, deram uma rasteira na democracia. Não só eles, como também o poder Judiciário em alguma ponta. Inventar aquele crime de responsabilidade. Agora, o TCU aprovou as contas do Bolsonaro e a mesma sistemática que a Dilma usou, agora eles simplesmente registraram e não consideram crime. Eu acho bom. Entenderam que fizeram errado. Foi tudo politizado naquela época. As posturas não foram isentas.

Erraram a mão. Acharam que iriam criminalizar o PT e criminalizaram a política como um todo. E acabaram que todos eles foram varridos na eleição de 2018. Quem ganhou foi o presidente atual e quem chegou ao segundo turno foi o PT com Haddad. Por isso as pessoas não largam a aposta que fizeram. Ele nunca enganou ninguém. Ele sempre disse que o negócio é matar, o negócio é bater, o negócio é estuprar, o negócio é a violência, ele já fez homenagem a um torturador... Então, ninguém diga que votou enganado. Acho que a eleição de 2018 representou o que hoje tem sido muito a política no mundo a partir das redes: o pensamento binário. Então, o binário era ódio e medo. As pessoas ficaram com ódio da política e acharam que ele representava a negação da política. E tinham muito medo da segurança e acharam que esse negócio de sair atirando para todo lado resolveria alguma coisa.

Tribuna - Muito se fala que, após a pandemia, voltará a se falar sobre o impeachment de Bolsonaro. O senhor concorda?

Jaques Wagner - Não fico trabalhando com essa ideia. Acho que ele ganhou a eleição e acho que tem o direito de governar. Agora, ele tem que governar dentro das normas. Ele está governando fora da norma, ofendendo os outros poderes, mentindo para a população. Ele não é médico e nem infectologista para estar falando de remédio durante a pandemia. Isso é coisa para a Organização Mundial de Saúde. Acho que não é essa pauta do país, não é o impeachment. A confusão que ele aprontou, a falta de apoio que ele deu, toda a brincadeirinha que ele fez com a doença é um desserviço com a nação. Agora, acho que a pauta do país é desenvolvimento, economia, respeito à democracia, cultura... Eu não fico trabalhando (com o impeachment). A população está pensando em emprego, saúde e prosperidade. Prefiro trabalhar em pontos positivos e propositivos.

Tribuna - Nessa crise se fala da implantação do parlamentarismo no Brasil. O senhor, na época do impeachment de Dilma, sugeriu que o país tivesse um recall eleitoral. O senhor mantém a proposta?

Jaques Wagner – Eu, na verdade, acho que a tradição do Brasil é presidencialista. Temos um problema grave que a democracia brasileira foi permitindo multiplicar o número de partidos políticos. E hoje as agremiações que estão aí não representam os partidos políticos na concepção da palavra. O partido é um conjunto de ideias, de governo para o país. Os partidos que estão aí, em grande parte, não representam isso. Representam interesses particulares. Então, é muito difícil falar em parlamentarismo com um país sem uma lei partidária mais restritiva. O Supremo barrou a cláusula de barreira, que poderia ter diminuído bastante essa sopa de letras que viraram os partidos. São mais de 30 partidos. Daqui a pouco chega a 40. No parlamentarismo, se pressupõe partidos políticos programáticos, que é uma coisa que o Brasil não tem. Então, eu continuo dizendo que continuo presidencialista. Vamos esperar o debate aparecer para ver se é o caso. O pessoal que defende o parlamentarismo considera que deputados e senadores teriam maior responsabilidade. Passada a pandemia, pode ser que volte esse debate.

Tribuna - E a proposta de recall?

Jaques Wagner - A proposta de recall é porque na época do impeachment de Dilma eu disse que era um absurdo. Quem tem que tirar é quem bota. Aliás, é muito comum eleger governador e não ter a maioria da casa legislativa. Então, não dá para a casa legislativa tomar o lugar do povo e inventar uma mentira como inventaram e passar.

Tribuna - Por que ainda resiste no país esse discurso antipetista que vem desde 2013 e 2014?

Jaques Wagner - Repare, fomos criados há 40 anos. E o partido, com respeito aos outros, é a maior ferramenta dos mais pobres, dos mais excluídos, de uma classe média que quer prosperar.

E é por isso que tivemos quatro eleições ganhas em nível nacional. A única forma de tentar destruir o partido foi colocando o falso carimbo de corrupção. Não que alguns dos nossos não tenham errado, como erraram em todos os partidos. Está aí o Serra (alvo de operação da Polícia Federal no início do mês) para provar isso agora. Aliás, isso foi uma coisa usada na América Latina inteira. Não vamos ser ingênuos. Somos um país que despertamos a cobiça internacional. O que a gente tem de natureza, de posição estratégia, de produtor de alimento... Então, não vamos dar uma de ingênuo e achar que as coisas acontecem por acaso. A Lava Jato cada dia mais está se exibindo com ligações ilegais, estruturas policiais de outros países. Acabaram com as nossas empresas. Poderiam ter acabado com os donos das empresas, mas não com as empresas. Esse clima que perdura, é porque o legado do partido, as pessoas tentam esquecer. E o legado partidário as pessoas tentam absolutizar. A prisão do Lula foi uma mentira. Todo mundo sabe que é uma mentira. A palhaçada do sítio e do apartamento. Até porque, a Presidência da República mexe com muito mais dinheiro do que com os dois patrimônios apontados. E, em nenhum dos dois patrimônios, corresponde à verdade. Na África do Sul prenderam Mandela por vinte poucos anos. Aqui tentam distribuir a imagem dele e do PT. O PT é uma estrutura que incomoda.

Tribuna - O partido não tem participado desses movimentos democráticos, como o Somos 70%. O PT está se isolando?

Jaques Wagner - Alguns querem isolar o PT. Há um movimento claro de tentar isolar o PT. Acho que tem contraposição de um lado e ciúme de outro. Acho gozado que ninguém cobra o PSDB nunca ter saído do governo de São Paulo e oferecido a alguém. Então, o problema é que o PT perturba. Fomos 13 anos e meio governo federal e temos uma marca muito forte. As pessoas querem destruir. São mais de 30 anos que o PSDB comanda São Paulo. Ninguém é mais identificado com a luta democrática como o PT. O Lula surgiu na luta contra os governos autoritários. Eles nos cobram autocrítica, mas será que não têm que fazer uma autocrítica sobre o golpe que foi o impeachment de Dilma?

Tribuna - O PT ainda consegue dialogar com a classe trabalhadora?

Jaques Wagner - Claro. Na minha opinião, a base do PT é da maioria de trabalhadores. Evidente que temos que migrar para a nova categoria de trabalhadores que veio com o advento da internet. Apresentei um PL (projeto de lei) que abrange toda essa classe que trabalha individualmente. Quem mais se movimentou pela Previdência Social foi o PT.

Tribuna - O senhor acha que as pautas identitárias têm prejudicado o PT?

Jaques Wagner -. Como essas pautas ficaram reprimidas durante muito tempo, elas vieram à tona. A questão das mulheres, dos negros, das opções sexuais... E aí, quem quer aproveitar para queimar o PT, diz que isso é contra a família e aí vai. Então, é uma guerra de informação. Acho que agora vai ter uma regulamentação das fake news, que não tem nada a ver com censura. Mas não vamos deixar de fazer essas lutas.

 

FONTE: www.trbn.com.br  
 
 

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