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Novos manejos no agro garantem maiores colheitas com menos impactos ambientais
Produtores baianos conseguem safras cada vez maiores utilizando menos áreas e recursos naturais
Domingo, 29 de Maio de 2022

Há dez anos, os produtores do Oeste da Bahia, uma das maiores e mais importantes fronteiras agrícolas brasileiras, utilizaram pouco mais de 1,2 milhão de hectares (ha) de terras para produzirem 2,7 milhões de toneladas de soja, um dos principais produtos da região. Agora, na safra que está sendo colhida, está prevista uma produção de pouco mais de 7 milhões de toneladas do produto, utilizando-se, para isso, uma área de 1,7 milhão de ha. Enquanto a área utilizada cresceu 41,6%, o aumento da produção foi de quase 160%.

Esses números colocam a Bahia como o 8º estado produtor no Brasil, que é o segundo maior produtor mundial. E a terra, principal patrimônio de quem trabalha com a agricultura, não foi o único recurso de que os produtores rurais baianos vêm otimizando o uso. O consumo de água para a irrigação do solo, hoje, representa 35% do que era usado há quatro décadas quando se descobriu que Barreiras, Luís Eduardo Magalhães e mais sete municípios eram terrenos férteis para a produção de alimentos. Fazer mais com menos é a aposta do campo para encarar desafio de alimentar a humanidade diante das incertezas trazidas pelas mudanças climáticas.


Ao mesmo tempo em que mudanças nos regimes de chuvas e temperaturas trazem novos desafios para a produção agrícola, a população mundial segue crescendo. O planeta que, atualmente, é o lar de 7 bilhões de pessoas, deve alcançar uma população de 10 bilhões até 2050. Até lá, a produção de alimentos precisa crescer em quase 7%, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Isso exigiria o uso de 40% mais água e até 50% mais energia. Mas o caminho que vem sendo traçado nos campos baianos mostra que tecnologia e inovação podem reduzir o tamanho deste desafio.

Apesar dos esforços, os dados sobre desmatamentos no estado indicam um grande desafio para o setor. Em 2020, apenas Minas Gerais desmatou mais a Mata Atlântica que a Bahia, de acordo com dados da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas (INPE). De acordo com o relatório Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, foram desmatados 3.230 hectares de área no estado. Houve uma pequena redução se comparado aos dados do período de 2018-2019, onde 3.532 hectares foram desmatados.

Desde 2018, a Bahia vem registrando altas nas taxas de desmatamento nas áreas de cerrado, de acordo com dados do Portal Terra Brasilis, mantido pelo INPE. O estado saiu de um total de 598 quilômetros quadrados (Km²), em 2018, para 925 km² em 2021. Balsas foi o município com a maior quantidade de área desmatada no ano passado, com 243 km², seguida por São Desidério, que perdeu 207 km² de mata.

O agronegócio depende diretamente do meio ambiente, diz o produtor rural Moisés Almeida Schmidt, vice-presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). “Se eu tiver qualquer tipo de contaminação de solo, contaminação vegetal ou algum tipo de desequilíbrio, não vou conseguir ter uma alta produtividade”, explica.

Para ele, eventuais impactos causados pelas mudanças climáticas são exatamente o oposto do que buscam os que vivem da terra. “Para buscarmos maior produtividade, o produtor, além dos tratos culturais, precisa buscar o melhor equilíbrio ambiental. O agronegócio sofre muito com qualquer problema relacionado ao clima”, pondera.

Segundo ele, já há algum tempo o setor agrícola vem fazendo a sua parte. De um lado, os produtores preservam além do mínimo definido pela legislação e, do outro, investem em produtividade, que significa fazer mais com cada vez menos recursos. “Nós temos uma das mais severas legislações ambientais do mundo, que estabelece pelo menos 20% das áreas como reservas legais, porém normalmente se faz muito mais do que isso”, afirma.

Schmidt fala do esforço que faz para enriquecer cada vez mais o solo que utiliza para o plantio de soja, entre outras culturas. “Nós partimos, no Oeste, de uma produtividade de 25 sacas por hectare para 75 sacas por hectare em 40 anos de soja na Bahia. Eu duvido muito que conseguíssemos chegar a essa alta produtividade se estivéssemos fazendo algo prejudicial”, diz.

Os resultados surgem a partir do incremento tecnológico e de melhorias no manejo. Um exemplo disso é o sistema de plantio direto, que envolve ações como mexer o mínimo possível no solo, cobertura da área com palhada e a rotação de culturas. Tudo isso ajuda a aumentar a produtividade, conservando ou melhorando continuamente o ambiente de cultivo.

O produtor lembra, ainda, do impacto positivo que o agronegócio produz para o país com a geração de divisas, na exportação, e na geração de emprego e renda. Os bens e serviços gerados no agronegócio movimentam R$ 1,55 trilhão por ano, o que corresponde a 21,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, segundo estimativa do Ministério da Agricultura.

Aposta na produtividade
Os números alcançados pelo campo, nos últimos anos, são o principal argumento apresentado por Humberto Miranda, presidente da Federação da Agricultura do Estado da Bahia (Faeb), para uma posição de otimismo do setor em relação a eventuais impactos das mudanças climáticas no campo. “As tendências podem melhorar ou piorar de acordo com uma série de fatores, mas eu estou olhando para os números”, diz. “Nossa visão, principalmente em relação à Bahia, é animadora. Os números de produtividade e produção tem aumentado a cada dia”.

“A produção de alimentos é feita cada vez mais com ciência, tecnologia, inovação, melhorias de processos e manejos de produção. Com isso se consegue produzir mais em áreas menores e usando um volume de insumos menor”, explica. “A Bahia tem melhorado a produtividade de grãos, inclusive da soja, o cacau tem melhorado bastante, assim como o café conilon, que vem crescendo bastante no Extremo Sul”, enumera.

Para ele, os bons resultados alcançados não isentam o setor agrícola de manter uma postura de atenção às melhores práticas de produção, com melhorias constantes no manejo, busca por novas variedades, que sejam mais produtivas. “O mundo tem uma demanda por alimentos. Se conseguirmos produzir mais em áreas menores, atendemos essa necessidade e evitamos desmatamento”, diz.

“A gente sabe que mudança climática é um problema real, que sustentabilidade é fundamental, o nosso setor precisa colaborar cada vez mais para a superação destes desafios, mas essa não é uma questão que vai ser resolvida sem a participação de toda a sociedade”, aponta.

Para ele, é importante que o assunto seja fonte de atenção geral.  “Meio ambiente precisa ser tratado nas escolas, com educação e formação de novas mentalidades e visões. As responsabilidades são de todos e isso começa com o cidadão, passa pelas instituições e também governos”, defende.

O produtor rural João Lopes acredita que há excessos nas análises a respeito dos impactos das mudanças climáticas no campo. “Pelo que eu já li sobre o assunto, hoje já não deveríamos mais produzir café no Brasil”, diz ele, que é presidente da Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé) e membro do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Cepram).  “Eu não tenho nenhuma dúvida de que há uma mudança em curso, isto é evidente”, destaca. A questão, pondera ele, está relacionada ao impacto que isso pode causar na produção agrícola.

Thiago Guedes Viana, assessor especial da Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia (Seagri), explica que aumentos de temperatura podem afetar o desenvolvimento das plantas, com impacto direto em diversas culturas como o feijão, por exemplo. Neste caso, um possível impacto seria a redução da quantidade de sementes por plantas.  Mudanças no regime de chuvas afetam diretamente o crescimento e a sanidade das plantas, diz. “As plantas ficam mais sujeitas a doenças”.

“A gente está identificando algumas áreas de plantio que possuem um baixo risco de impacto, intermediário e outras que correm um risco maior. O que vai acontecer com as mudanças climáticas é que teremos cada vez menos áreas de baixo risco”, explica. Culturas como as da mandioca e do feijão podem enfrentar uma redução em suas áreas úteis, aponta. “Existem estudos apontando para essa realidade nos próximos anos”.

Mitigação de impactos
Desde 2010, o governo brasileiro tem um programa para reduzir as emissões a partir de técnicas de produção voltadas para a sustentabilidade, como o sistema de plantio direto, reflorestamento e tratamento de dejetos animais. O Plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), coordenado pelo Ministério da Agricultura, teve a primeira etapa finalizada em 2020. Com as medidas, o governo afirma ter alcançado 115% da meta, com mitigação equivalente a 170 milhões de toneladas de gás carbônico.

Wilson Andrade, diretor executivo da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF), destaca que a posição brasileira nas discussões sobre as mudanças climáticas melhorou bastante, após a COP26, realizada em Glasglow, no ano passado. “O Brasil tem feito muito e é um dos líderes no combate às mudanças climáticas. Isso precisa ser reconhecido”, diz. Ele ressalta ainda que a toda a produção agrícola brasileira ocupa apenas 7% da área total do país.

Outro aspecto que mostra o papel do país no combate às mudanças climáticas é o percentual de áreas preservadas. “Nós vivemos em um país em que 65% da área é preservada, é cobertura natural, exatamente como era quando os portugueses encontraram aqui. Qual é outro país que tem isso? Talvez a Rússia”, pondera. “Se não somos os primeiros, somos os segundos”.

“Qual é o país no mundo que obriga o fazendeiro a preservar entre 20% e 80%, como se faz na Amazônia? O código florestal brasileiro diz que se deve preservar 80% da área da floresta, sem mexer”, diz. “No Cerrado, chega a 35% de obrigatoriedade de área. No restante do país, a menor taxa é de 20% de preservação. Temos a maior área preservada em relação ao território”, completa. Ele compara o cenário com o verificado na Europa, cuja cobertura média varia entre 5% e 6% do território.  

Em relação à área florestal, Wilson Andrade defende o trabalho em duas frentes. Em uma delas, o rigor da lei para os desmatamentos e queimadas ilegais. E além disso, ele fala sobre a necessidade de um trabalho para demonstrar o valor que as florestas tem “de pé”. “Olha o exemplo do açaí, que gera bilhões para o país a partir da floresta”, cita. Ele explica, ainda, que há bastante espaço para crescer com a remuneração por serviços ambientais, que tem como grande vedete o mercado de crédito de carbono.

O diretor da Abaf reforça a necessidade de dividir a responsabilidade pelo controle do clima com todos. “Se o mundo tem um aumento acima de 1,5 graus vamos ter catástrofes. Excessos de chuvas em um lugar e de secas em outros. Nenhum excesso é bom para o agro. Isso gera perdas”, ressalta. Ele ressalta o potencial que o Brasil tem como um vetor de solução para alimentar o planeta.

Ação humana
O 6º relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), publicado em agosto de 2021, apontou o desmatamento e a queima de combustíveis fósseis como a causa de 98% do aquecimento global.

De acordo com o estudo, fenômenos como o derretimento de geleiras, o aumento nas temperaturas das partes superiores dos oceanos e ondas de calor extremos estão entre as evidências do fenômeno. Além disso, em 2019, as concentrações atmosféricas de CO2 foram maiores do que em qualquer momento em 2 milhões de anos.

Em seu primeiro relatório, publicado em 1990, o IPCC já apontava para um aumento na temperatura global. Porém, naquele momento ainda não era possível determinar a ação humana como a causa da mudança. Somente dez anos depois isso começou a ser exposto pelo painel.
Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, o mais recente relatório do IPCC é um alerta vermelho para a humanidade. “O documento deve ser uma sentença de morte para o carvão e os combustíveis fósseis antes que eles destruam o planeta”, disse. "Os alarmes de emergência estão soando, e a evidência é irrefutável", disse Guterres, assim que o relatório foi liberado.

"Corremos o risco iminente de atingir 1,5 grau no curto prazo. A única maneira de evitar ultrapassar esse limite é com urgência intensificando nossos esforços e perseguindo o caminho mais ambicioso", alerta. Para ele, as soluções são claras. “Economias inclusivas e verdes, prosperidade, ar mais limpo e melhor saúde são possíveis para todos, se respondermos a esta crise com solidariedade e coragem”, resume.

As intensas chuvas que recentemente castigaram a Bahia, bem como a estiagem em algumas regiões do estado, levantaram questões sobre o impacto do desequilíbrio climático no estado, conta Thiago Guedes Viana, assessor especial da Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia (Seagri).

“As chuvas provocaram uma diversidade de situações no campo. Para algumas culturas, foram até boas. O que nos preocupa, mesmo nas discussões sobre mudanças no clima, é a possibilidade de aumentos de temperatura, alterações na precipitação e nos aumentos na concentração dos gases do efeito estufa”, explica.

 

FONTE: www.correio24horas.com.br  
 
 

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