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‘A ferrovia é algo que vai deixar um legado muito além da nossa geração’, diz Eduardo Ledsham
Quinta-Feira, 15 de Setembro de 2022

A Bamin está em contagem regressiva para o primeiro semestre de 2026. É quando a mineradora baiana poderá começar a utilizar toda a capacidade da Mina Pedra de Ferro, em Caetité, e escoar uma produção anual, que deverá chegar aos 26 milhões de toneladas de minério de ferro pelo primeiro trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e o Porto Sul, em Ilhéus.

O presidente da Bamin, Eduardo Ledsham, avaliou, em entrevista exclusiva, o impacto que o projeto da mineradora terá para a economia baiana. Ele lembra que além de viabilizar o megaprojeto de mineração, o corredor logístico deverá impulsionar o agronegócio baiano e outros projetos de mineração. O complexo logístico que será criado com a conclusão da Fiol I, entre Caetité e Ilhéus, e o Porto Sul, serão apresentados pela Bamin nesta quinta-feira (15), durante a Exposibram 2022, em Belo Horizonte (MG).
Quem é: Eduardo Ledsham esteve à frente do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), ligado ao Ministério de MinaseEnergia, de agosto de 2016 a agosto de 2017. Entre 2012 a 2015 foi CEO da B&A Mineração. Foi também Diretor Global de Exploração e Desenvolvimento de Projetos Minerais e Diretor Global de Energia, Fertilizantes, Exploração, Desenvolvimento e Implantação de Projetos na Vale, onde atuou por 26 anos. É formado em Geologia pela Universidade Federal de Minas Gerais.

A Bamin é uma mineradora que surge no Século XXI, quando o mundo se depara com desafios relacionados à transição energética e descarbonização. Como o projeto de vocês responde a essas demandas sociais?
Nós somos o primeiro projeto greenfield de minério de ferro no Brasil, numa escala de 26 milhões de toneladas de produção por ano. Nós incorporamos todas as lições aprendidas na história recente da mineração, incorporando a responsabilidade de investir na transição energética. Estamos localizados no meio de um parque eólico hoje com mais de 2,2 mil torres. Estamos trabalhando para ter um contrato PPA (plurianual) com os fornecedores de energia. E em nossa cadeia, a gente está trabalhando para entregar ao nosso cliente final, a siderúrgica, um minério que garanta o selo verde no produto dele. Trabalhamos com base em três pilares, de reaproveitamento da água, de 93%; utilização de energia renovável, inclusive estamos substituindo a frota de transporte de caminhões pela alternativa ferroviária e já estamos avaliando o uso de locomotivas elétricas. Só que isso tem que ser feito passo a passo. Outra alavanca nossa é a do trabalho em parceria com as comunidades locais, para não apenas incorporarmos tecnologia, mas transferir este conhecimento para as comunidades locais.

Qual a diferença entre um projeto maduro que é adaptado às demandas de sustentabilidade e um outro que já nasce com essa visão mais recente?
Sem dúvidas, o custo de começar do zero é muito menor. Qualquer projeto que já está em operação e precisa se adaptar vai demandar investimentos em reconstrução e ajustes de equipamentos. Numa linguagem bem simples, para adaptar você gasta para destruir e depois para reconstruir. No nosso caso, o desafio é apenas o de construir.

Como a Bamin aproveitou este hiato entre o início da implantação da mina e a conclusão da infraestrutura de escoamento, com ferrovia e porto?
Nós investimos muito para mitigar os riscos de engenharia, de geologia e de tecnologia. Esse tempo nos permitiu incorporar o que existe no estado da arte na mina. Um ótimo exemplo é que a gente substituiu a nossa barragem, que era convencional à jusante por um outro modelo em que a gente tem filtragem e exposição do solo. Foi um projeto que demandou três anos de investimentos nossos. Já apresentamos para a Secretaria do Meio Ambiente e o Inema e estamos aguardando a aprovação disso.

Como está a operação de vocês pelo terminal portuário da Enseada?
Hoje nós estamos transportando cerca de 750 mil toneladas de minério de ferro por lá. Outras 250 mil toneladas, a gente continua a vender no mercado interno. Nós temos uma ansiedade de buscar, no médio prazo, uma recapacitação da FCA (Ferrovia Centro-Atlântica, operada pela VLI) para nos dar a possibilidade de exportar um volume maior de cargas no médio prazo, para que possamos dar mais visibilidade ao nosso produto junto ao cliente final e pular a movimentação de 1 milhão de toneladas por ano para 2 milhões.

Essa ideia de requalificação da FCA é antes da Fiol ficar pronta?
A ideia é que isto aconteça antes. Eu acho que é o melhor cenário acontecer antes. O nosso foco obviamente está na Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), mas existe um espaço para a gente garantir esta exportação durante um período de 5 anos.

Como está o processo de implantação da Fiol e do Porto Sul, em Ilhéus?
No Porto Sul, a gente avançou bastante desde o ano passado. Estamos praticamente concluindo a primeira fase, que são os acessos para as obras onshore (em terra) e offshore (no mar), avançamos na supressão vegetal, para iniciarmos a terraplanagem. Estamos nos preparando para iniciar as obras offshore em 2023.

Quando se inicia a operação?
Nossa meta é para o primeiro semestre de 2026, com mina, ferrovia e porto. Nós ajustamos os três cronogramas ao do porto porque é o caminho mais crítico.

A Bamin assinou um memorando com representantes do agronegócio baiano. Qual é a demanda que vocês esperam da região Oeste e de outros empreendimentos no entorno da ferrovia?
No agronegócio, a Bahia tem uma produção de soja de 7,5 milhões de toneladas por ano, temos a intenção de atrair também o milho, que tem como grande vantagem a produção por todo o ano. Com a logística da Fiol I e da II, que esperamos ser leiloada em julho do ano que vem, a gente espera que esta produção chegue a 12,5 milhões de toneladas. Claro que terá sempre um volume transportado por caminhões, em função da logística, mas esperamos que 90% disso seja absorvido pela vantagem competitiva que a ferrovia vai oferecer em termos de custo e volumes.

Fala-se hoje em quase 1 milhão de toneladas de grãos baianos escoados pelo Porto de Itaqui, no Maranhão. A Fiol vai reverter isso?
Eu acho que terá espaço para os dois. Quem está mais perto da Norte-Sul pode achar mais vantajoso ir por lá, mas a nossa estratégia é de não só mostrar competitividade em preços e tarifas, mas mostrar capacidade e continuidade de transportes. Nós estamos investindo no desenho de um terminal dedicado para grãos no Porto Sul. Vamos começar com uma capacidade de 5 milhões e módulos de expansão, o que vai dar ao produtor uma garantia e a certificação de que terá um terminal dedicado.

A Bamin venceu o leilão de concessão da Fiol I. Qual é a importância da complementação da ferrovia, com os trechos II e III? Faz sentido para vocês ter a concessão dos outros dois trechos?
Nossa obrigação é terminar a Fiol I, mas obviamente iremos estudar a Fiol II, que deve acontecer a curto ou médio prazo. Nosso interesse aqui é garantir o máximo de cargas numa ferrovia que foi desenhada para chegar a 60 milhões de toneladas. Só o nosso projeto vai ocupar 26 milhões, então temos que correr atrás de mais de 50% da capacidade. O agro já teme cargas, é uma realidade. Estou convencido de que isto trará competitividade para o Oeste da Bahia e oportunidades de desenvolvimento ao longo da ferrovia. Existem outros projetos ao longo da ferrovia que serão alavancados. Temos ainda o frete de retorno, podemos concentrar movimentação em Caetité ou ao longo da ferrovia. Essa combinação de minério de terceiros mais o agro nos permitem imaginar até um outro terminal. O potencial de crescimento é grande.

Qual é o impacto econômico e social da Bamin no estado e qual será este resultado quando todo o complexo operar à plena carga?
O projeto integrado está abrindo um corredor que vai viabilizar outros negócios que a gente ainda não tem como visualizar o tamanho deles. Mas certamente, a ferrovia se conectando aos trechos II e III, será a primeira grande ligação no sentido Leste-Oeste no país. Isso vai trazer competição para 22 municípios, onde teremos a geração de empregos durante a construção e a operação, mas muito além disso, vai fomentar conhecimento, capacidade e  empreendedorismo para atender a estes novos projetos. A formação de pessoal que vai atender não apenas à Bamin, vai alavancar e facilitar os projetos futuros que serão beneficiados com esta iniciativa.

Como vocês estão preparando a mobilização da mão de obra e o processo de capacitação e qualificação?
A expectativa durante a construção, de mina, ferrovia e porto, é de 55 mil pessoas contratadas direta e indiretamente. Temos conversado com diversos municípios para mapear fornecedores locais e identificando as áreas que precisam de investimentos para atender à demanda. A ferrovia é algo que vai deixar um legado muito além da nossa geração, para as futuras gerações. Vai além de trazer empregos hoje, mas trará prosperidade e conhecimento no futuro.

A Bamin passou por diversos momentos eleitorais desde a sua implantação. Vocês enxergam algum tipo de risco político para a continuidade do projeto de vocês?
Nenhum risco. Isto é um projeto de estado, há um interesse que transcende o lado político. Se você olhar como estado, trata-se de um corredor único. Temos recebido visitas de todos os partidos e todos demonstram interesse em conhecer. A porta está e estará sempre aberta. Para nós o importante é dar continuidade e trabalhar com uma expectativa de previsibilidade. Não vejo nenhum tipo de dificuldade por conta do momento político. 

 

FONTE: www.correio24horas.com.br  
 
 
   
 
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