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Com queda de mais de 80% no Fies em dez anos, crédito estudantil privado supera financiamento público na Bahia
Em três anos, os financiamentos das próprias instituições privadas cresceram 108% no estado; Prouni aumentou 13%, mas especialistas dizem que não é suficiente
Segunda-Feira, 13 de Outubro de 2025

Um estudante que começa uma graduação em faculdades e universidades privadas hoje e precisa de algum tipo de bolsa, financiamento ou desconto tem mais chances de recorrer a algum tipo de programa da própria instituição ou de crédito privado do que a uma iniciativa federal. Esse novo cenário mostra uma mudança no pagamento pelo ensino superior no país e reacende um alerta no setor educacional.

Desde 2022, há mais registros de financiamentos privados na Bahia do que bolsas dos principais programas federais da área: o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (Prouni). Em três anos, os financiamentos das próprias instituições privadas cresceram 108% no estado, segundo dados do último Censo do Ensino Superior, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) no mês passado.

Depois de ter seu auge entre 2015 e 2016, bolsas do Fies caíram 83,9% na Bahia: saíram de 93.689 em 2014 para 15.088 em 2024. Assim, o programa que superava os outros com folga passou a representar a menor fatia no estado hoje. No Brasil, a situação não é muito diferente. Na verdade, o cenário nacional já tinha se invertido antes,em 2017, quando as regras do crédito federal mudaram.

No caso do Prouni, porém, a variação foi positiva: houve um crescimento de 13%, saindo de 16,2 mil para pouco mais de 18,4 mil no ano passado no estado. Por outro lado, os financiamentos privados cresceram 108% na Bahia: saíram de 14.744 em 2021 - o último ano em que foram a menor fonte de financiamento - para 30.668 no ano passado. Ainda assim, o número é bem distante do período áureo do Fies, que ultrapassava 90 mil bolsas por ano.

“Nós temos realmente uma crise em relação à questão das políticas de acesso ao ensino superior. Hoje, podemos dizer que o número de alunos que ingressam com Prouni ou Fies não chega a 5% do total de ingressantes do ensino superior”, diz o diretor executivo do Semesp (entidade que representa mantenedoras de ensino superior no país), Rodrigo Capelato.

Ele lembra que, em 2014, foram 734 mil novos contratos de Fies e Prouni. Agora, anualmente, no país, não chega a 100 mil novas efetivações. Entre 2017 e 2018, o Fies passou por mudanças significativas, mas, sete anos depois, o cenário é de queda ainda maior.

“O governo tem uma questão orçamentária e, ao mesmo tempo, as regras ficaram muito rígidas. O programa só financia quem tem uma renda muito baixa, mas exige uma pontuação no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) que é alta para essa população, que estudou em escolas da educação básica que não preparam para um bom desempenho no Enem”, explica.

Os programas federais exigem desempenho mínimo de 450 pontos no Enem. “Já o Prouni podemos dizer que não caiu em números absolutos, mas o número de vagas no ensino superior cresceu e ele não acompanhou. Hoje, temos ociosidade: vagas sobrando”, aponta.


Vagas desocupadas

Um levantamento do Semesp mostrou que a ociosidade de vagas em instituições privadas chegou a 68,06% em 2024 no país - no presencial, foram 60,82%, enquanto a EaD atingiu 74,87%. Os percentuais de vagas não ocupadas aumentam a cada ano - em 2014, por exemplo, eram 31,13%.

Isso não quer dizer, segundo Capelato, que não exista interesse dos jovens para entrar na universidade. No ano passado, a entidade fez uma pesquisa com 2.478 estudantes que estavam concluindo o Ensino Médio, em todo o país, e 85,5% afirmavam que pretendia entrar em um curso superior. Dos participantes, 9,4% diziam não saber se ingressariam e 5,1% afirmaram que não queriam começar uma graduação.

Na Bahia, a mesma pesquisa revelou um cenário semelhante: 85,7% queria entrar no ensino superior, 7,1% dizia não saber e 7,1% não queria. Mas, quando perguntados sobre como pretendiam pagar a mensalidade, a maioria pretendia ingressar com algum tipo de bolsa ou desconto: 17,6% responderam que pretendia usar Fies; 13,5% queriam ingressar com bolsa da instituição; 4,1% falavam em outros financiamentos privados; 13,5% apontavam o Prouni e 29,7% diziam querer ingressar com algum desconto.

“Só 16,2% pagariam a mensalidade normalmente. Então, o Prouni e o Fies ficaram muito restritos e esses alunos continuam sem dinheiro para ingressar. Eles estão contando com a instituição de ensino para que ela ajude dando bolsa ou com algum financiamento próprio. Isso é o que mais tem crescido: as próprias instituições tendo que buscar soluções para esses alunos continuarem com o sonho de estudar”, afirma Capelato.

Privados

Maior representante do segmento de crédito privado hoje, o Pravaler viu o número de contratos crescer 82% entre 2023 e 2025 - justamente quando os financiamentos privados superaram os financiamentos públicos. Fundada há 24 anos, companhia hoje responde 85% do mercado de crédito privado estudantil.

Pelo modelo deles, o aluno paga 50% da mensalidade durante o curso e os outros 50% após a formatura. De acordo com o diretor de Finanças Corporativas e Governança do Pravaler, Rafael Piva, a empresa tem parceria com 19 instituições de ensino baianas. Há cinco anos, eram 12, o que representa um aumento de 58%.


“A redução do Fies e a limitação de vagas nos programas públicos transformaram o ecossistema de financiamento estudantil, abrindo espaço para soluções privadas mais acessíveis e sustentáveis", opina Rafael, que destaca que o Pravaler tem parcerias com 600 instituições no país. “Hoje, o crédito privado já é considerado um instrumento estruturante de sustentabilidade e inclusão, equilibrando o mercado e garantindo que mais jovens possam acessar e concluir o ensino superior”.

Na Bahia, 90% dos alunos que solicitam o Pravaler têm entre 19 e 40 anos, mas 52% tem entre 19 e 25 anos. Desses, 74% são calouros em cursos com tíquete médio de R$1 mil por mês. No entanto, 18% são estudantes de Medicina, que tem a mensalidade média de R$10,5 mil. Além disso, 97% acionaram o crédito privado sem ter dívidas anteriores com a faculdade.

Metade deles não tem nenhuma fonte de renda, enquanto a outra metade declara renda de até R$1 mil. Fiadores desses estudantes, por outro lado, têm uma renda média de R$18 mil. Ao todo, são 4,6 mil estudantes com financiamento ativo.

O percentual de estudantes de Medicina com financiamento pelo Pravaler na Bahia (18%) é ainda maior do que o índice nacional, que é de 12%. Logo após cursos médicos, vêm Direito (16%), Enfermagem (10%), Psicologia (8%) e Odontologia (6%).

“Ao longo da trajetória do Pravaler, houve maior diversidade de cursos, com forte presença em Direito, Administração e Engenharia. Nos últimos anos, porém, Medicina passou a liderar o volume de originação, com aumento de 107% no número de financiamentos entre 2023 e 2025", afirma Piva.

Mudança

Para o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, é preciso pensar em novos modelos de financiamento a longo prazo. Um dos formatos sugeridos por ele é o adotado na Austrália: lá, ao invés de cobrar do estudante indiscriminadamente assim que se formar, a cobrança ocorre à medida que a pessoa consiga gerar renda após receber o diploma.


Além disso, ele defende maior divulgação dos programas federais. “Quando foram criados, havia maior incentivo para que os alunos utilizassem”, avalia. Capelato defende também que as exigências para ser contemplado por financiamentos ou bolsas federais sejam revistas.

“O Fies vai beneficiar principalmente quem ganha meio salário mínimo per capita, mas tem gente de 1,5 salário mínimo que precisa de financiamento. Também esse critério do mínimo de 450 pontos no Enem pudesse ser visto em alguns cursos, para não ser indiscriminadamente em todos os cursos. Alguns, como os tecnólogos, são mais rápidos e baratos, poderia ser uns 400”, sugere.

Aperfeiçoamento

Em nota, o MEC informou que tem trabalhado “continuamente” para aprimorar o Fies e o Prouni, inclusive a criação de cotas para o Fies, o Fies Social (para quem tem renda mais baixa) e a ampliação dos programas de permanência. O órgão lembra que, ao analisar os dados do Censo da Educação Superior, é importante observar o histórico do Fies e as medidas de ajuste para garantir a sustentabilidade financeira do programa.

“Diante desse cenário, o Grupo Técnico do Fies e o Comitê Gestor do Fies (CG-Fies) têm reunido com frequência gestores para discutir medidas de aprimoramento da política de financiamento estudantil e planejar a adequação a um modelo que assegure equilíbrio fiscal, transparência e qualidade dos cursos ofertados pelo programa educacional”, dizem.

Segundo o MEC, até 31 de dezembro do ano passado, o programa de financiamento de dívidas do Fies firmou mais de 387 mil acordos no país. Somente com o pagamento da entrada das renegociações, foram pagos mais de R$ 794 milhões à União.

O Prouni, por outro lado, já concedeu sete milhões de bolsas desde que foi criado, há 20 anos. Atualmente, são 632 mil estudantes beneficiados - desses, 533 mil têm bolsa integral. O MEC lembrou que a atual gestão reajustou os valores das bolsas de permanência. Estudantes indígenas e quilombolas matriculados em instituições federais passaram a receber, desde fevereiro de 2023, bolsa mensal de R$ 1,4 mil (antes, o valor era R$ 900). Já o auxílio para os prounistas com bolsa integral e que atendem aos critérios do programa foi aumentado para R$ 700 (anteriormente, era de R$ 450).

 

FONTE: www.correio24horas.com.br  
 
 

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