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Localização e biodiversidade levam a Bahia à preferência dos traficantes de animais silvestres
Neste ano, na Bahia, mil animais que seriam traficados foram resgatados em uma única apreensão
Segunda-Feira, 25 de Março de 2024

Em fevereiro deste ano, um veleiro de bandeira brasileira deixou à costa do país em direção à Benin, no oeste da África. A bordo, estavam um brasileiro, um uruguaio, um surinamês e um togolês. O quarteto, no entanto, não estava só.

Cruzaram o Oceano Atlântico na companhia deles 17 micos-leões-dourados e 12 araras-azuis-lear, pássaro considerado um tesouro da caatinga baiana por ser encontrado exclusivamente no Raso da Catarina, ecorregião localizada entre Canudos e Paulo Afonso, no norte do estado.

As aves, também chamadas de ararinhas azuis, e os primatas, ao que tudo indica, fomentaria uma grande e lucrativa rede de tráfico de animais e, no exterior, supostamente na Europa, cairia nas mãos de “colecionadores” fissurados em ter exemplares de animais considerados raros ou no colo de pessoas que o “tornariam pets”, conforme revelou a investigação da Polícia Federal.

Por sorte, a embarcação apresentou problemas ao se aproximar da região costeira do Togo, país da África Ocidental. Durante uma fiscalização a bordo, as aves baianas foram encontradas pelas autoridades togolesas assustadas e estressadas. Já os micos, endêmicos da Mata Atlântica, entre o Rio de Janeiro e Espírito Santo, estavam cobertos por óleo e com a saúde afetada. Os animais foram repatriados para o Brasil e os tripulantes do veleiro detidos.

As araras-azuis são consideradas uma das criaturas mais caras no comércio do tráfico ilegal de animais, isso porque, além de ser uma ave considerada exótica para outros países, elas estão em extinção e só podem ser encontradas cortando o céu da caatinga baiana, o que faz com que os traficantes as comercializem como verdadeiros “tesouros” para os colecionadores.

De acordo com o delegado da Polícia Federal, Fábio Muniz, cada ararinha azul chega a custar cerca de R$ 200 mil. “Como é um mercado ilícito, feito no submundo do tráfico de animais, a gente estima, com base em investigação já feitas, que essas araras são vendidas por esse preço, mas pode variar, dependendo da localização. Se ele for vendido mais próximo do local de captura, será mais barato. Na Bahia, esse animal terá um valor; na África ou na Europa, terá outro muito maior”, explica.

“Quem compra esses animais está disposto a pagar uma nota para ter em suas casas uma raridade, um exemplar que só pode ser encontrado em determinada parte do mundo, a quilômetros de distância dele. Animais raros, de cores vibrantes e em extinção, como a arara baiana, valem muito”, explica o biólogo Flávio Nogueira, especialista em Conservação e em Animais Ameaçados de Extinção.

Alvo
A Bahia se tornou um grande alvo dos traficantes de animais silvestres. Duas questões podem ajudar a explicar isso, conforme o especialista. Além de contar com uma biodiversidade rica, o estado é, entre as oito federações do Nordeste, a mais próxima da região do Sudeste, onde se concentram as redes criminosas de captura e exportação desses bichos.

“No estado há Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado, biomas com presença dos mais diversos animais. Sem contar das vias fáceis de acesso ao Rio de Janeiro e São Paulo, estados onde os traficantes concentram suas bases, e de onde a maioria dos animais é enviada para fora do país, seja por meio de aeroportos ou portos”, completa Nogueira.

Em 2023, mais de 6 mil animais silvestres foram resgatados pelas autoridades em território baiano. Neste ano, a maior apreensão aconteceu em janeiro, em um trecho da BR-101, na cidade de Gandu, no sul da Bahia. Na ocasião, mil bichos, entre eles aves e jabutis, foram encontrados amontoados nos bancos e no porta-malas de um carro. O motorista fugiu.

As autoridades baianas afirmam que têm combatido o crime com o serviço de inteligência e fiscalização. Érica Patrícia, comandante da Companhia Independente de Polícia de Proteção Ambiental (Coppa), diz que as principais rotas rodoviárias utilizada pelos criminosos estão nas cidades de Feira de Santana, Milagres, Vitória da Conquista, Paulo Afonso, Santo Antônio de Jesus, Barreiras, Teixeira de Freitas e Ilhéus. Já os aeroportos mais usados são os de Salvador, Ilhéus e Barreiras. O principal destino é o Sudeste do Brasil.

“O tráfico de animais é prejudicial, pois retira os animais do habitat natural, o que impede a reprodução das espécies, levando-as ao processo de extinção, sem contar que esses animais são dispersores de sementes, ou seja, são reflorestadores. Uma vez retirados da natureza, diversas espécies de árvores também deixam de nascer”, explica a comandante.

Ainda conforme Muniz, o esquema criminoso é dividido em três cadeias. Na base, estariam os apanhadores, pessoas nativas das regiões consideradas habitats das espécies mais visadas pelos traficantes. Eles usam do conhecimento sobre a natureza da área para capturar os bichos e, em seguida, repassá-los para os intermediários. O delegado da PF os classificam como a “ponta mais fraca da associação criminosa”.

Já os intermediários adquirem os animais, geralmente aves, jabutis e saguis, dos apanhadores e os levam para os comerciantes que, por sua vez, fraudam as documentações para que o processo se pareça legal antes de venderem para dentro de fora do país.

Os vendedores estão no topo da cadeia e são aqueles que mais lucram como todo o esquema. O dinheiro proveniente do tráfico de animais é geralmente lavado.

O agricultor Carlos Silva, 69 anos, que prefere não divulgar sua identidade verdadeira, por mais de 10 anos, trabalhou, de forma paralela, caçando ninhos de periquitos-da-caatinga, animal endêmico do Nordeste, além de tocas de jabutis em uma região próxima à Feira de Santana.

Os animais eram comercializados para caminhoneiros de sua “confiança” que levavam os bichos nas carrocerias e boleias dos seus veículos para comerciantes de São Paulo e do Paraná. O valor variava, mas nenhum bicho era vendido por Carlos por mais de R$ 50. Ele diz ter perdido as contas de quantos periquitos e jabutis retirou da natureza.

“Só parei depois que meu filho foi estudar em Salvador e voltou me avisando que aquilo era crime e que eu, além de afetar a natureza, poderia ser preso. Hoje, me arrependo e jamais voltaria a fazer o que fiz. Vez ou outra me procuram, mas se depender de mim, mais nenhum anima sai dessa serra”, diz o agricultor a se referir ao revelo da região onde mora.

 

FONTE: www.correio24horas.com.br  
 
 

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