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Oeste nada selvagem: agro movimenta economia e atrai população para cidades do interior
Atualmente, 44% do PIB agropecuário da Bahia está concentrado em sete municípios
Quinta-Feira, 31 de Outubro de 2024

Já faz um tempo que a pujança econômica do agronegócio baiano é cantada em verso e em prosa, até pelo papel que a atividade tem desempenhado ultimamente, de evitar maiores solavancos nos resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do estado. Em 2023, o setor totalizou mais de R$ 88 bilhões, o que lhe rendeu 21% de participação no resultado final da economia baiana.

Atualmente, 44% do PIB agropecuário da Bahia está concentrado em sete municípios: São Desidério, Formosa do Rio Preto, Barreiras, Correntina, Luís Eduardo Magalhães, Riachão das Neves e Jaborandi. O grupo também se destaca pelo aumento na participação do PIB total da Bahia e no crescimento populacional. Não é por acaso que cinco deles estão entre os 15 que mais ampliaram a participação na economia baiana nos resultados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os anos de 2002 e 2021.

No caso de Luís Eduardo, o destaque também é outro. O município é o que teve o maior aumento populacional, em termos percentuais, entre 2010 e 2022 – os últimos dois censos populacionais realizados –, passando de uma população de 60 mil habitantes para pouco mais de 107 mil, o que representa uma expansão de 79,5%. O aumento populacional é entendido como um indicador de desenvolvimento, afinal as pessoas querem estar em lugares que lhes ofereçam oportunidades.

Além dos números que indicam o impacto econômico da atividade agrícola, a Associação dos Produtores de Algodão da Bahia (Abapa) apresentou no último mês de julho um estudo, feito pela Universidade Federal de Viçosa, que mostra o impacto social da cotonicultura do Oeste. O levantamento projetou o impacto econômico da atividade em pouco mais de R$ 427 milhões, no ano de 2023, e calculou um retorno social de R$ 3,52 por cada R$ 1 investido pelos produtores. Em 2023, foram investidos R$ 86 milhões, que renderam R$ 230 milhões de retorno social.

O produtor Luiz Carlos Bergamaschi, presidente da Abapa, explica que a entidade sempre mensurou os impactos econômicos dos projetos em que investia, mas entendeu ser importante também conhecer melhor os impactos sociais da atividade. “Quando você vai à região de Luís Eduardo Magalhães fica muito claro o papel transformador que o agro desempenha lá, inclusive fora das propriedades rurais, com muitos empregos e renda gerados no setor de serviços e até na indústria”, diz.


O produtor rural lembra que além de gerar um grande número de empregos, a produção agrícola do Oeste ainda é responsável por oferecer oportunidades para profissionais mais qualificados e com melhores salários.

“A Bahia é um dos estados onde mais se aplica tecnologia agrícolas. Na região oeste, acredito que cerca de 90% das nossas áreas já utilizam o sistema do plantio direto, um diferencial muito grande, e os veranicos não nos assustam mais”, ressalta o presidente da Aiba, Odacil Ranzi. “Além de dispor de solo, sol e água, fatores diferenciados e favoráveis à agricultura, aplicamos as melhores técnicas de plantio, incremento de boas práticas agrícolas”, completa.

Escoamento

É verdade que a produção agrícola já desempenha um papel relevante em diversas regiões do estado, entretanto este potencial ainda está longe de ser devidamente aproveitado. E uma das principais razões para isto está nas deficiências na estrutura para o escoamento da produção. Para Luís Carlos Bergamaschi há bastante espaço para ampliar a movimentação de algodão pelo Porto de Salvador, que atualmente movimenta menos de 5% da produção baiana.

“Hoje boa parte ainda sai pelo Porto de Santos porque a movimentação demanda toda uma logística até o destino, mas nós olhamos muito para o Porto de Salvador, que é uma alternativa”, aponta. Bergamaschi acredita que é possível crescer pensando na cadeia logística de forma integrada. “É importante que o contêiner que vai levar o nosso algodão retorne para cá cheio também”, defende.

Guilherme Dutra, diretor comercial do Terminal de Contêineres do Porto de Salvador (Tecon Salvador), empresa do grupo Wilson Sons, aponta o Oeste da Bahia como uma região de interesse prioritário para o terminal. Segundo ele, a Região Metropolitana de Salvador (RMS), somada com o entorno de Feira de Santana, responde por 70% das movimentações, até pela proximidade geográfica. “Nós buscamos atrair as cargas que estão fora deste raio”, explica.

“Hoje nós temos um terminal moderno e com capacidade de atender bem todo o interior da Bahia, Sergipe, o Norte de Minas Gerais e boa parte do Matopiba (região agrícola que engloba o Oeste da Bahia e os estados do Maranhão, Tocantins e Piauí)”, explica. O que precisa melhorar é algo que está além da alçada da empresa. “A infraestrutura entre o porto e estas regiões poderia ser bem melhor”, acredita.

Apesar disso, Guilherme garante que o Tecon consegue ser competitivo. “Estamos sempre buscando fazer com que os mercados nos olhem como opção”.

Grande potencial

Presidente da Federação da Agricultura do Estado da Bahia (Faeb), Humberto Miranda ressalta o potencial para geração de empregos e renda da agricultura, tanto a que produz em grande escala, quanto a menor. Ele cita como exemplo o município de Casa Nova, no Norte do estado, onde as opções de trabalho na agricultura reduziram os índices de desemprego. “Hoje você chega em uma cidade como Casa Nova e as pessoas dizem que lá é desemprego zero, só não está trabalhando quem não quer trabalhar, ou tiver algum problema que o incapacite”, exemplifica. “Em quantos outros municípios do Brasil a gente consegue ter um depoimento como este?”, questiona.

Para Humberto Miranda, a potencialização do desenvolvimento que é gerado pelo agro depende também de investimentos em educação profissionalizante. “Criar estas condições é fundamental para termos um país melhor”, aponta.

“As oportunidades de crescimento pessoal e profissional precisam estar casadas com a possibilidade de ter qualidade de vida no interior. Quando uma pessoa que está estabelecida numa cidade grande pensa em se mudar para uma pequena, ela quer saber se o filho terá acesso a uma boa escola, se terá um hospital, em caso de doença, lembra.

Ele lembra ainda da produção de citrus, no Litoral Norte, na região de Barra, onde a construção de uma ponte sobre o Rio São Francisco facilita a logística e atraiu investimentos em fruticultura, grãos e até cana, para a produção de biocombustível. “A Bahia também tem um potencial fantástico com a agricultura familiar, que infelizmente não é aproveitado como deveria. Precisamos dar a estes pequenos agricultores as mesmas condições que o grande tem. Não é impossível”, completa.

 

FONTE: www.correio24horas.com.br  
 
 

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