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População de jumentos no Brasil cai 94% em meio à demanda chinesa por colágeno e pode ser extinta até 2030; entenda
Mais de 1 milhão de animais foram abatidos desde os anos 1990, segundo rede de conservação
Sábado, 05 de Julho de 2025

A busca pelo colágeno extraído da pele dos jumentos, matéria-prima do ejiao — um produto da medicina tradicional chinesa —, vem provocando uma redução drástica da população desses animais em diversos países. No Brasil, os efeitos desse mercado são alarmantes: mais de 1 milhão foram abatidos entre 1996 e 2025, o que levou a uma queda de 94% da população da espécie no país, segundo dados da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos.
De acordo com as estimativas, o número de jumentos no Brasil caiu de 1,37 milhão para cerca de 78 mil. “Se o ritmo atual continuar, a espécie não chega a 2030 em território nacional”, alerta o professor Pierre Barnabé Escodro, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que integra uma rede de pesquisadores mobilizados contra o abate desses animais.

O grupo se reuniu na semana passada, em Maceió, na terceira edição do evento Jumentos do Brasil, junto a cerca de 150 participantes, entre cientistas brasileiros e estrangeiros. O objetivo foi discutir estratégias de conservação e cobrar a aprovação do Projeto de Lei 1.973/2022, que propõe a proibição do abate em todo o país e segue parado no Congresso Nacional.

Abate sem rastreabilidade
Atualmente, três frigoríficos têm autorização do Serviço de Inspeção Federal (SIF) para abater jumentos no Brasil, todos localizados na Bahia. Embora o abate seja regulamentado, pesquisadores e defensores da causa alegam que não há rastreabilidade na cadeia produtiva, nem controle efetivo sobre maus-tratos e sanidade animal.

“É uma atividade puramente extrativista. Produzir jumentos para abate não é economicamente viável. O que há é um esgotamento contínuo de um recurso que não se regenera na mesma velocidade com que é explorado”, afirma Escodro.

Um artigo publicado em maio na revista científica Animals por Escodro e outros cinco pesquisadores revelou que 104 jumentos abandonados, destinados ao abate, apresentavam sinais de inflamação sistêmica — um indicativo de negligência e sofrimento animal.

A atividade já foi temporariamente suspensa pela Justiça em outras ocasiões, com base em ações de organizações que denunciam maus-tratos e o risco de extinção.

Disputa política na Bahia

Em 2022, um projeto de lei apresentado na Assembleia Legislativa da Bahia propôs a proibição do abate no estado. No entanto, em abril deste ano, o relator do PL, deputado Paulo Câmara (PSDB), deu parecer contrário à proposta. Ele argumentou que a atividade possui regulamentação, importância econômica e que “a população de jumentos está estável”.
A declaração provocou reação imediata de entidades ligadas à conservação animal, que publicaram uma nota de repúdio e contestaram os dados apresentados. Procurado, o deputado reafirmou, por meio de nota, que seu parecer foi “embasado em critérios técnicos, legais e econômicos”, sem negligência ao bem-estar animal.

O colágeno extraído da pele dos jumentos é utilizado na fabricação do ejiao, substância valorizada na medicina tradicional chinesa por supostamente tratar condições como anemia, insônia e impotência sexual — embora sua eficácia não tenha comprovação científica.

O comércio é altamente lucrativo. Segundo a organização britânica The Donkey Sanctuary, cerca de 5,9 milhões de jumentos são abatidos por ano em todo o mundo para abastecer o mercado de ejiao, que movimenta cerca de US$ 6,4 bilhões. No Brasil, a pele de um único jumento pode chegar a custar até US$ 4 mil, de acordo com Pierre Escodro. O preço do animal vivo, impulsionado pela escassez, saltou de cerca de R$ 100 para até R$ 500 no interior do Nordeste.

Reportagem da BBC Brasil mostrou, em 2021, como o comércio de jumentos afetou cidades baianas como Amargosa, onde os animais praticamente desapareceram.

Impacto global e santuários no Brasil
No cenário internacional, o alerta também cresce. No último dia 25, uma pesquisa da Universidade Maasai Mara, no Quênia, revelou que o roubo de jumentos para a indústria do ejiao impacta comunidades rurais inteiras, especialmente mulheres que utilizam os animais em atividades produtivas.

O Egito já praticamente perdeu sua população de jumentos. Em resposta à crise, a União Africana aprovou no ano passado uma moratória de 15 anos para o abate da espécie com fins comerciais.

No Brasil, uma das alternativas em debate é a criação de santuários em áreas onde ainda há concentração desses animais. No Ceará, a região de Jericoacoara abriga cerca de 700 jumentos em uma área de difícil acesso para os abatedouros. No município de Santa Quitéria, também no estado, uma fazenda pertencente ao Detran acolhe entre 1,2 mil e 1,3 mil animais.
“Essas áreas poderiam ser formalizadas como zonas de conservação. Isso fortaleceria o combate à extinção no médio prazo”, defende Escodro.

Outra frente de atuação é a reintrodução dos jumentos em atividades econômicas e sociais. Pesquisadores estudam formas de reintegrá-los à agricultura familiar e à chamada “jumentoterapia” — uso terapêutico dos animais em tratamentos assistidos. “Eles ainda podem ter um papel importante, como ocorre em pequenas propriedades rurais na Europa”, diz Escodro.

 

FONTE: oglobo.globo.com/Foto:Bahia Notícias  
 
 

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